A História

A origem desta Instituição radica em confrarias, votadas ao exercício da caridade, que existiam em Portugal bem como em todo o Mundo Cristão.

Umas eram de inspiração de ordens religiosas, outras de corporações de ofícios, mas todas tinham em comum, entre outros objetivos, a prestação de socorros mútuos. Para o efeito possuíam, ou pelo menos administravam, albergarias, gafarias e mercearias. Assinala-se que as confrarias que se dedicavam à administração de hospitais eram particularmente as do Espírito Santo.

Nos meados do séc. XV o rei D. Afonso V procurou por cobro a abusos detetados em diversas administrações e encetou diligências visando que nas diferentes localidades do Reino se agrupassem num só os diversos hospitais existentes em cada uma delas. A sua administração tornava-se assim mais facilmente controlável e, simultaneamente, um só hospital, maior, ao absorver e coordenar a gestão dos bens dos mais pequenos, proporcionava maior rentabilização dos recursos.

A primeira Confraria da Misericórdia fundada em Portugal foi a de Lagos, a que se seguiu poucos dias depois a de Lisboa. Esta resultou da reforma e do aperfeiçoamento da Confraria de Nossa senhora da Piedade, que existia numa das Capelas do claustro da Sé de Lisboa, fundada entre 1195 e 1205 por D. Margarida Albernaz e seu marido.

Os estatutos porque inicialmente se regeram as Misericórdia Portuguesas foram redigidos aproveitando disposições das mais famosas confrarias e hospitais de Itália. Estas inspiravam-se na máxima de realizar as catorze obras de misericórdia. Daí o nome destas Instituições.

Os seus irmãos tinham de ser "Homens de boa fama, sã consciência e honesta vida, tementes a Deus e guardadores de seus mandamentos, mansos e humildosos a todo o serviço de Deus e da dita confraria". Dentre os irmãos era escolhido o Provedor, pessoa que administrava os bens da Misericórdia e que foi sempre das pessoas mais ilustres de cada terra. No desempenho das suas funções era (e ainda é) coadjuvado por um grupo de outros irmãos (no caso da Misericórdia de Aljezur são quatro) constituindo todos a Mesa.

Uma provisão régia de Filipe III, dada no ano de 1603, autorizou os Irmãos da Misericórdia de Aljezur a gozarem os mesmos privilégios que os da de Lagos: isentava-os de servir os encargos e as obrigações do povo e também do serviço de vigias e de roldas e de algumas outras coisas mais. Esta provisão foi confirmada posteriormente e é interessante assinalar que neste âmbito a Misericórdia de Aljezur acompanhou sempre a de Lagos.

Na falta de documentos comprovativos não se conhece a data da fundação da Santa Casa da Misericórdia de Aljezur. Apenas se pode indicar o período entre 1498 e 1527, ano em que uma provisão régia de 19 de Agosto lhe concedeu o privilégio de poder construir uma Igreja. Ignora-se também se esta foi construção de raís, ou se aproveitamento de outra pré-existente. Sabe-se que posteriormente foi reconstruída e modificada, especialmente durante o biénio de 1755-56. Parece que foi muito pouco danificada pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755, pois desempenhou funções de Igreja Matriz de Aljezur.

Como curiosidade assinale-se que no seu campanário, de três arcos, a Irmandade mandou colocar as luminárias para festejar o nascimento de D. José, filho primogénito de D. Maria I. O seu custo orçou na altura a importância de sessenta réis.

O adro da Igreja é pequeno mas dele desfruta-se uma excelente panorâmica da várzea de Aljezur.

No seu interior é bem visível o banco dos Irmãos, no lado da epístola. Data de 1773, assim como o ladrilhamento da Igreja, o púlpito e a composição do altar com a construção de uma tribuna com trono e grade.

O altar-mor foi reconstruído em 1821. No seu interior encontram-se imagens de roca de Nossa Senhora da Soledade, de Santa Isabel e de S. João Evangelista. Possui alfaias de culto dos séculos XVII a XIX: 1cálice e respetiva patena de prata, talvez de meados do século XVII; uma naveta da mesma época; um missal de 1801 e um livro de cerimonial de batismos de 1843; além de dois paramentos, um do século dezassete e outro do século seguinte. É de salientar a posse de um crucifixo indo-português, em marfim, do século dezassete.

Não se sabe igualmente quando foi instituído o primeiro hospital em Aljezur, nem a sua localização. Somente se tem notícia de que é anterior a 1569 e que foi erigido por um certo Fernão Anes Anão.

Em 18 de junho de 1629 uma provisão régia de Filipe IV manda entrega-lo à Misericórdia de Aljezur. O edifício foi ampliado no ano de 1778 e em 13 de Abril de 1855 foi decidido mandar construir um outro junto à casa do Despacho, a qual funcionava ao lado da sacristia da Igreja da Misericórdia. Teve vida curta, uma vez que em 1872 foi mandado encerrar por não dispor de médico, nem de meios para pagar ao hospitaleiro (administrador) nem ao sangrador.

O Livro das Visitações da Igreja de Nossa Senhora D'Alva, iniciado no ano de 1605, dá notícia da existência em Aljezur, no século XVII, do Hospital do Espírito Santo. A documentação conhecida não permite vislumbrar se este estabelecimento é o instituído por Fernão Anes Anão, aludido por outra designação, ou se é outro. Caso esta última hipótese seja verdadeira, não se sabe também se foi integrado na Misericórdia de Aljezur e em que data.

Inserta num meio rural, uma das principais, se não a principal fonte de rendimentos consistiu nos foros (rendas) das propriedades que lhe pertenciam, pagos na sua esmagadora maioria em cereais. Estes eram guardados num celeiro sito na antiga Rua da Misericórdia.

O encerramento do Hospital conduziu a um período de grande marasmo, durante o qual a Misericórdia de Aljezur se limitou a receber nas suas instalações idosos carenciados, aos quais prestou uma precária assistência.

Por esta razão a Mesa Administrativa que tomou posse em Janeiro de 1982, começou a imprimir uma nova dinâmica à Misericórdia Aljezurense. Com o apoio do Centro Distrital de Segurança Social de Faro e da Câmara Municipal conseguiu construir de raíz, na Igreja Nova, um novo Lar para a Terceira Idade. Em 1992, com o intuito de desativar o "Lar Velho" que funcionava nas antigas instalações do "hospital", junto à Igreja da Misericórdia, a Mesa Administrativa, então no exercício, mandou proceder a obras de ampliação do Novo Lar. Essas obras foram comparticipadas pelo Centro Distrital de Segurança Social de Faro e pela Câmara Municipal de Aljezur. A mesma Mesa mandou igualmente proceder a obras de restauro na Igreja e no antigo hospital que foi adaptado a Museu de Arte Sacra. Contou com o apoio da CCDR, do então Governo Civil e da Câmara Municipal.